terça-feira, 24 de agosto de 2010

promessa de criança

Ele devia ter três ou quatro anos na época. Um menino branquinho, de olhos claros e muito falante, era uma daquelas crianças habitués no bazar da dona Alice. Quem o trazia era a avó, vigorosa, simpática e igualmente falante, que sempre que podia, dava uma passada na loja que ficava bem na frente de seu prédio.
Um dia, o netinho se apaixonou por um carrinho. Não daqueles bobinhos, pequenos e que só andam a fricção. Nada disso. Era um carrinho de controle remoto, movido a pilhas, com antenas, que ele poderia pilotar. Um carrinho de menino grande.
"Vó, a gente pode levar esse carrinho?"
"Não, a vovó está sem dinheiro."
"Mas eu queria..."
"Mas a vovó está sem dinheiro..."
Ele parou, pensou e não demorou para achar uma solução, que propôs sem hesitar a quem poderia de fato resolver a questão.
"Tia Alice, eu posso levar esse carrinho e eu te trago um bolo?"
Minha mãe deu risada e logo lhe deu o carrinho. A avó pediu desculpas, insistiu que voltaria para pagar. Dona Alice repetiu que não era necessário: com um pedido original e irresistível assim, quem precisava de pagamento?
Alguns dias depois, o pequeno veio novamente visitar o bazar com sua avó - dessa vez carregando um bolo quase maior que ele.
"Tia Alice, eu trouxe esse bolo pra você! Eu que fiz!", anunciou ele, felicíssimo com sua façanha.
A avó depois contou, orgulhosa: seu netinho não havia se esquecido da promessa. Com sua ajuda, ele havia quebrado os ovos, colocado os ingredientes, batido a massa, levado ao forno. E tinha feito questão de ir carregando o bolo até a loja.
Hoje passados alguns anos, dona Alice nem se lembra de que sabor era o bolo. Mas garante que foi um dos melhores que já provou.

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