terça-feira, 26 de outubro de 2010

happy hour

Chico Buarque devia ter acabado de conhecer a Aretha, nossa golden retriever, quando rabiscou os primeiros versos de "Cotidiano": "Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã".
Porque é exatamente isso que Aretha faz todos os dias: às seis em ponto ela sobe as escadas até os quartos, abre a porta do quarto de dona Alice e levanta o braço dela com o focinho até minha mãe acordar, dar um afago nela e voltar a dormir.
E com a mesma previsibilidade com que acorda dona Alice todos os dias, Aretha ronda a mesa do café da manhã. Ela nunca faz isso no almoço ou no jantar, porque sabe que comida ela não ganha, não importa quanto insista. Mas com pão e frutas a história é outra: Aretha come misto quente, pão com manteiga, pão com Amendocrem, pão-de-queijo, banana, mamão, melancia. Enquanto todos tomam o café da manhã, ela se reveza entre os membros da família, ganhando um pedacinho daqui, outro de lá. O último pedaço do meu sanduíche é sempre dela (e eu preciso mostrar o prato vazio para ela se convencer de que o sanduíche realmente acabou).
Outro dia, observando Aretha andando de um lado para outro, recebendo seus petisquinhos feliz da vida, dona Alice soltou, entre um gole e outro do café com leite:
"Nosso café da manhã é o happy hour da Aretha."
Era verdade. E ninguém nunca havia descrito isso tão bem.


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