quinta-feira, 29 de julho de 2010

no campo belo

Dona Alice tem um carinho especial pelo Campo Belo. Foi aqui que construiu sua vida, depois da ralação inicial de imigrante recém-chegada ao Brasil. Eram os anos 70, ela não falava português, mas nem por isso se intimidava. Começou vendendo roupas de porta em porta, carregando o bebê na barriga que só fazia crescer. Ia tomando os diferentes ônibus para ver onde eles paravam. Desbravar novos bairros era uma grande aventura.
Foi no Campo Belo que ela acabou se estabelecendo. Abriu sua loja e foi atrás dos balcões dessa loja, que já tem 34 anos, que viu o Campo Belo crescer. Com o tempo, os primeiros clientes, já mais velhos quando minha mãe começou o negócio, foram envelhecendo e morrendo. Seus filhos continuaram comprando no bazar da dona Alice. Agora os netos.
"Dona Alice, meu pai perguntou se eu posso pegar esse carrinho e depois ele passa para pagar", dizem os meninos, que hoje parecem crescer mais rápido que antigamente.
"Lógico!", diz sempre minha mãe. "Pode levar."
Confiança de anos na vizinhança. Eles sempre passam para pagar.
O Campo Belo hoje cresce também como bairro. As casas de vovó estão dando lugar a prédios de alto padrão, trazendo novas famílias para a região. Todo dia abre uma loja nova, um salão de beleza novo, um pet shop novo. O número de carros, cães e carrinhos de bebês nas ruas só aumenta.
E dona Alice assiste orgulhosa, como se fosse parte de tudo.
Nesses últimos tempos, passear pelo bairro é um de seus passatempos favoritos. Quando está sol, ela chama a Aretha, nossa golden retriever, e anuncia: "Vou ver se está tudo bem com o Campo Belo". Como se o Campo Belo fosse um parente querido.
Dona Alice sai pelas ruas, conversa com as pessoas, se atualiza dos netinhos e divórcios da vizinhança, confere lojas que abriram e fecharam, vê quais casas foram postas à venda, ora lamenta, ora comemora os prédios que não páram de pipocar.
E volta cheia de novidades para contar.

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