terça-feira, 12 de abril de 2011

armada e perigosa

O Campo Belo vem passando por uma transformação estranha esse último ano. Num período curtíssimo, uma pequena cracolândia se formou ao longo do córrego que deu o nome à antiga avenida Águas Espraiadas, atual Roberto Marinho. Passando pela região é fácil identificar os pequenos conglomerados, roupas nos varais improvisados, gente fumando crack. Não é raro ver motoristas parados no trânsito se assustarem com uma pessoa que, de repente, sai de dentro do córrego.
O resultado são mendigos dormindo em calçadas e garagens, pedintes nas entradas de supermercados e padarias, usuários de drogas se aventurando perigosamente por avenidas cheias de carros, num torpor inconfundível.
Vários moradores dessa nova comunidade que se estabeleceu no Campo Belo passam na frente do bazar diariamente. A maioria são homens feitos, que andam pelo bairro desocupados, pedindo comida, água, sacolas plásticas e trocados, num tom que fica entre o pedido e a ameaça.
Dona Alice morre de medo dessas situações, não apenas por ela, mas por todos na loja. Com ela e as balconistas são três mulheres tomando conta do bazar. A clientela é essencialmente formada por velhinhas, jovens mães e crianças pequenas. Até o cachorro é fêmea. Dona Alice tem experiência de sobra para justificar o excesso de zelo - nunca se sabe do que esses sujeitos são capazes.
Outro dia, um grupo de rapazes visivelmente sob efeito de drogas parou na frente da loja pedindo água. Minha mãe, já saindo de detrás do balcão, disse que não tinha. Os garotos insistiram. Dona Alice não se mexeu. Contrariados, passaram a xingá-la e a ameaçá-la com palavras impublicáveis.
Sozinha na loja, dona Alice não teve dúvidas: pegou a raquete amarela de matar pernilongos, daquelas encontradas por R$ 15 em qualquer cruzamento de São Paulo, e correu até a entrada.
- "Olha, é melhor vocês irem embora porque eu estou armada", disse, mostrando a raquete em punho. "E essa raquete TEM LUZ!"
Os marmanjos se entreolharam e, sem saber como reagir diante da chinesa que pretendia defender sua loja com uma raquete, saíram xingando. Depois que viraram a esquina, dona Alice se acomodou novamente no seu banquinho e voltou a ler seu jornal - mas deixou sua arma pertinho, só para prevenir.

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