quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"meu, tá bombando!"

Dona Alice aprendeu a falar português no dia-a-dia. Teve pouca educação formal na língua, com aulas em escolas públicas e igrejas quando sobrava um tempo na rotina corrida de loja, casa, marido e filhos.
Por isso, seu português é uma mistura do português culto, que aprendeu nos livros, e do coloquial, que pratica no balcão. Dona Alice entende e se faz entender muito bem, com um sotaque que eu considero imperceptível, mas que meus amigos insistem em dizer ser carregado.
Mas o mais divertido de se conversar com ela é observar o seu uso de gírias. Como estrangeira, minha mãe não sabe diferenciá-las da norma culta e nem tem conhecimento de que gírias caem em desuso. Para ela, todas as palavras estão numa mesma categoria e cabe a ela aprendê-las.
E ela aprende rápido. Dona Alice repetia todas as nossas gírias adolescentes quando estávamos na escola e, incrivelmente, usava sempre nas situações certas. Algumas passaram; outras, como "maior legal", ela incorporou ao vocabulário e não abandona por nada no mundo.
Nós crescemos, viramos adultos e as gírias de minha mãe evoluíram junto com as nossas. Hoje é comum flagrá-la ralhando com a Aretha, nossa golden retriever, porque ela "só causa". Ou comemorando o fato de o Benjamim Botequim, o bar vizinho da loja, estar "bombando". Ou reclamando de prazos não cumpridos e de fornecedores "sem noção".
E quando eu achava que ela já tinha dominado todas as gírias mais recentes e que, portanto, seu português beirava a perfeição, dona Alice solta, diante de algum comentário implicante de minha parte: "Meu, Li, você é muito mala!"
Aí eu percebo que sempre há espaço para melhora.

Um comentário:

  1. hahahahahaha!!!! Eu amo as gírias da dona Alice!!! Principalmente a usada no título!
    Aliás eu amo a família toda!

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